domingo, 31 de janeiro de 2010

A influência do Tupi na fala dos habitantes de Abaetetuba


Em muitas regiões do país, ocorreu o contato do Português com o Tupi, responsável pela infinidade de nomes que encontramos nas denominações de animais, plantas, objetos, rios, igarapés etc., que constituem descrições perfeitas das coisas a que se referem, mas que muitas vezes não reconhecemos como oriundos do Tupinambá.
Como a história do município de Abaetetuba também se insere no contexto da colonização portuguesa que se iniciou no século XVI pelo litoral brasileiro. O contato de imigrantes portugueses com os indígenas da pequena tribo nômade denominada “Mortiguar” – uns dos primeiros habitantes do território do município que seria séculos depois denominado de Abaetetuba – favoreceu a presença, na fala dos moradores de Abaetetuba, de muitas palavras provenientes do Tupi Antigo (ou Tupinambá), que continuam sendo usadas pelos habitantes desse município, assim como ocorre em muitas regiões do país, principalmente na fala daqueles habitantes com maior idade.
Sendo assim, não se pode negar a pluralidade linguística do município abaetetubense, manifestada pelas várias diferenças lexicais do português. Haja vista que a língua portuguesa foi influenciada por diversas línguas – não somente pelas línguas indígenas, como também africanas, alemã, italiana, etc – e por diversos povos que contribuíram para a pluriculturalismo (plurilinguismo e pluridialetalismo) do nosso povo.
Muitos vocábulos de origem Tupi foram incorporados pela variedade linguística abaetetubense de forma significativa, pois várias palavras e expressões identificadas são formadas por termos que se caracterizam como formas do Tupi antigo, ou da Língua Geral Amazônica, também denominada de Nheengatu. Isso “[...] porque era [esta] a mais importante, era a mais falada e funcionava mesmo como espécie de “língua segunda” de certos grupos aborígenes não tupis”. (MELO, 1981, p. 41)
Grandes foram as contribuições do Tupi ao léxico da língua portuguesa no município, batizando rios: Abaeté, Arienga, Canapijó, Cutijuba, Guajará, Genipaúba etc; ramais como os de Cujarí, Cupuaçu, Urubupataua, ilhas, Cururu, Capim, Jarumã, dentre outras.
Contudo não foi somente a toponímia de Abaetetuba que foi marcada pela língua indígena, a influência também se dá na antroponímia, como exemplos têm-se: Jurema, Iracema, Ubirajara, Sinimbu, Iraci, Jandira etc. Sem esquecer os diversos nomes aplicados a flora e fauna da região: jupati, ingá, inajá, acapu, copaíba, tucumã, tiririca, ambuá, caba, cutia, jararaca, tapuru, turu etc.; aos utensílios: catitu, matapi, pari, tipiti, arapuca, peconha, cuia, aturá; às comidas: maniçoba, beju, caribe; aos duendes: anhangá, curupira; e às enfermidades: pereba, pira, titinga, os quais constituem uma pequena parte dessa valiosíssima herança oriunda do Tupi-Guarani.
É importante também assinalar remanescentes do Tupi Antigo em expressões, como no caso de arapapá em “boca de arapapá”; mutuca na expressão “na mutuca”; de palavras derivadas como “capina”, proveniente de capim; “pirangueiro” da palavra piranga; “capoeirão” de capoeira, assim como a formação de substantivos compostos por justaposição como “tuí terçado” e “tuí branco”, e compostos por aglutinação como na palavra “tapera” do tupi taba+puera.
Ainda temos os verbos, como no caso de gapuiar, que conforme Melo (1981, p. 41), necessitam de especial alusão pela importância que geram devido ser considerável a quantia de verbos formados a partir de radical Tupi, sendo bem maior que os de origem árabe.
Além disso, há também a existência de palavras que adquiriram um significado diferente do apresentado pelo mesmo significante em outras cidades e/ou regiões do país como aru”, que em Abaetetuba refere-se a “pessoa tola”, enquanto que em outros lugares da região Amazônica denomina uma espécie de sapo. Ou, então, de palavras que passaram a ter mais de um significado como “caraxué”, vocábulo cuja acepção tanto indica uma espécie de pássaro, quanto o homem que vive à custa da prostituição de mulheres.
Não se pode deixar de mencionar também o aparecimento de variantes como acabocado para acaboclado; mundé para mundéu e de outras que provavelmente merecerão destaque em um próximo estudo linguístico.

3 comentários:

Anônimo disse...

blog sem e-mail é tal mapará podre

Unknown disse...

Muito bem esclarecedor e mostra que a Língua portuguesa sempre pode ser moldada e se sair bem. José Brandão Email jmmrbrandao@gmail.com. 04/06/16.

Unknown disse...

Muito bem esclarecedor e mostra que a Língua portuguesa sempre pode ser moldada e se sair bem. José Brandão Email jmmrbrandao@gmail.com. 04/06/16.